Aqui o pasquim tem andado sem pedalada. Não por desinteresse nas bicicletas mas por falta de pachorra para as internets.
Mas esta posta não podia deixar passar. Pelo menos tenho a certeza que o Nuro vai ficar radiante, e só por isso satisfaço 25% dos meus leitores. Nice! Tenho até a certeza que com esta ele me vai pagar um cafezinho! ;)
Então cá vai:
Pedalava a caminho de casa, ao fim da tarde, ali para os lados de Monsanto, quando encontro um ciclista com ar de quem trazia muitas histórias para contar.
Meto conversa pelo caminho mais óbvio: de onde vens, para onde vais? Já não me lembro ao certo da resposta que ele deu nesse momento, mas fiquei logo a perceber que não tinha um trajecto definido e que já trazia muiiiiiiiitos km´s nas pernas. Mais tarde havíamos de voltar a esse tema, já com um mapa à frente, e mesmo assim fiquei baralhado. É que o Keith não viaja propriamente a direito. Vai dando voltas e voltinhas e mais voltas e mais voltinhas. Com isso tudo havia passado pelo Vietname, Cambodja, India, China, Japão, Marrocos, Mauritania, Senegal, e por praticamente todos os países da Europa, à excepção do Lichtenstein e outro que agora não me lembro. E tudo isto repetindo várias vezes alguns países num trajecto que desenhado no mapa resulta num emaranhado deveras confuso e impressionante.
E por falar em impressionante, já vos contei com ele ia numa bike fixed gear!!
Oh yeah!!! Isso mesmo. Porque? Pelas razões óbvias, de que, tendo pernas (e se ele as tinha!!!) é só vantagens, sobretudo a facilidade de manutenção, fiabilidade e ainda a capacidade de travagem!
Capacidade de travagem com uma fixa, pensarão vocês? Pois, mas quando tivémos que parar atrás de um carro que se imobilizou no fim de uma descida com mais de 10% de inclinação, ele comentou qualquer coisa como "com uma bike com este peso, se não fosse poder trava-la com as pernas tinha ido contra esse Peugeot". Ok... mais de 65kg de bike não deve ser fácil de parar à custa de calços de travão. Mas como disse, é preciso pernas. E para o Keith isso não é problema. Antes de se fazer à estrada há já alguns anos, ele era corredor em velódromo. :)
Lá fomos rolando em amena conversa, eu todo curioso a querer aprender ao máximo como se faz uma viagem destas e ele super disponível a explicar o que toda a gente lhe deve perguntar, quando o indaguei sobre aquela noite. Sugeri-lhe o parque de campismo mas ele referiu que preferia evitar os parques por uma questão de orçamento. Monsanto não lhe parecera o sítio ideal para pernoitar e ia em busca de uma zona florestal mais distante, que havia visto no mapa. Percebi depois que era a Serra da Carregueira. Bom, já era tarde e obviamente que o convidei a ficar em minha casa, o que ele prontamente aceitou.
Em tempos já participei no
Couchsurfing.com, como hóspede e como anfitrião, e pude voltar a comprovar o quão bom é poder acolher alguém. Adorei viajar com os relatos que ele me trouxe das muitas peripécias e reflexões sobre o mundo que ele vem construindo com a sua viagem.
Ficou sobretudo uma ideia, de que é preciso descomplicar. A vida enche-nos de medos. Medo disto, medo daquilo, e com isso construímos as nossas prisões. Quem se lança numa viagem destas aprende a largar essas amarras. Ainda que a filosofia não me seja estranha, os meus hábitos são outros e por isso fica ainda uma impressão/admiração com a perspectiva de não saber exactamente onde vai dormir amanhã, o que vai comer, para onde vai, e de o dizer com um sorriso nos lábios. Completamente despreocupado. Confiante de que tudo de bom vai aconter... Mas na verdade, preso nas minhas rotinas, eu também não posso garantir uma resposta às mesmas questões... :)
O Keith e a sua Bike
Boa viagem ao Keith e a todo os que se aventuram por aí!!!